Líder do PL na Câmara critica articulação do Planalto, denuncia supostos escândalos, presta solidariedade a Bolsonaro e impõe ultimato ao presidente Hugo Motta
Brasília – Em um discurso enfático no plenário da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (23), o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da oposição e da maior bancada da Casa, disse que o governo Lula “não tem base” e denunciou o que chamou de “barca furada” do “desgoverno do descondenado”. Sem citar diretamente o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o parlamentar fez duras críticas à articulação política do Executivo, à atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente hospitalizado.
“O governo não consegue nem mesmo aprovar um requerimento de urgência nesta Casa. Isso é a prova cabal de que não há mais sustentação política”, declarou Sóstenes, ao parabenizar a bancada do União Brasil por votar contra uma matéria de interesse do Planalto. O líder do PL afirmou ainda que a oposição mantém com frequência cerca de 130 votos, suficientes para barrar projetos do Executivo.
Durante a fala, Sóstenes também se solidarizou com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que se recupera de uma cirurgia, e denunciou o que classificou como um “abuso de poder” do Judiciário. “Uma oficial de Justiça foi ao CTI para citar Bolsonaro. Isso é um atentado contra a dignidade humana e uma afronta ao Código de Processo Penal”, afirmou, sugerindo que alguns ministros do STF estão “jogando a mais alta Corte do Brasil na lata do lixo”.
O parlamentar ainda citou as investigações da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, que apura desvios bilionários em consignados destinados a aposentados e pensionistas. “Descobriram um rombo de R$ 6,3 bilhões. Agora, não se rouba mais milhão, se rouba bilhão. Isso é um escândalo. Queremos todos os culpados presos, sejam de que governo forem”, pontuou.
Ao final de sua fala, Sóstenes usou o tempo na tribuna para enviar um recado direto ao presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), por meio do presidente em exercício da sessão, Elmar Nascimento (União-BA). O motivo foi a ausência do projeto de urgência para votação do PL da Anistia na pauta da reunião do Colégio de Líderes.
“O PL foi o primeiro a apoiar Hugo Motta. Mas até aqui, ele tem agradado muito mais ao governo do que aos seus primeiros aliados. Tudo na política tem limite. Amanhã, se o requerimento de urgência da anistia não for incluído na pauta, entenderemos isso como um gesto de desrespeito político e quebra de confiança”, afirmou.
A fala de Sóstenes expõe a tensão crescente entre oposição e governo, bem como dentro do próprio bloco político que sustenta a atual presidência da Câmara. O embate em torno do PL da Anistia, considerado estratégico por aliados de Bolsonaro, pode se tornar o novo teste de força entre Executivo, Legislativo e Judiciário.